Edward Coração de Gelo - Capítulo 01

 


Capítulo 1 – A Confissão de Kim


A luz da lua atravessava as cortinas finas do quarto, lançando faixas prateadas sobre o chão de madeira polida. Clara estava sentada à beira da cama, abraçando os joelhos, com os olhos brilhando de curiosidade e expectativa. Sua avó, Kim, sentada em uma poltrona de veludo desbotado, respirava fundo, olhando para o abajur que lançava uma luz amarelada sobre suas mãos enrugadas. Havia silêncio, pesado e cheio de lembranças que pareciam querer escapar de cada parede daquele quarto.


“Clara…” começou Kim, a voz suave e trêmula, “há algo que preciso te contar. Algo que você precisa ouvir, e precisa entender.”


Clara inclinou-se para frente, sentindo a emoção no tom de sua avó. “O que é, vovó? Pode me contar. Eu quero saber tudo.”


Kim suspirou, e por um instante fechou os olhos, como se revivesse cada momento de sua própria juventude. “Tudo começou há muitos anos, quando eu era uma jovem como você. Talvez você já tenha ouvido falar dele… Edward. Edward Mãos de Tesoura.”


Clara acenou lentamente, os dedos entrelaçados. “Sim… você contou um pouco. Mas… havia partes que não entendi.”


Kim respirou fundo e continuou, a voz baixa e carregada de lembrança: “Naquela época, eu vivi algo que ninguém entenderia. Edward não era apenas diferente por suas mãos, como todos pensavam… ele era um homem com um coração enorme, e uma alma pura, mas o mundo… o mundo era cruel. Quando tudo aconteceu, quando eu e Edward estávamos juntos, houve um confronto com Jim… e as coisas terminaram de forma trágica… pelo menos foi o que todos acreditaram.”


“Mas… ele não morreu?” perguntou Clara, com um fio de esperança em sua voz.


Kim balançou a cabeça lentamente. “Não, minha querida. Eu… eu menti. Eu fiz o mundo acreditar que Edward estava morto. Não podia deixá-lo ser caçado, não podia permitir que sua vida fosse destruída pelos medos e preconceitos de todos. Eu o escondi, e desde então ele vive… sozinho.”


Clara sentiu um arrepio subir pela espinha. “Você… escondeu-o? Por toda a vida?”


“Sim”, respondeu Kim, os olhos marejados. “E cada dia sem ele foi um peso para mim, mas eu sabia que era a única maneira de protegê-lo. Ele merecia viver, mesmo que isso significasse sacrificar tudo, até mesmo minha própria felicidade.”


Clara fechou os olhos por um instante, absorvendo cada palavra. A jovem podia sentir o peso da decisão da avó, o amor e a dor que se entrelaçavam em cada lembrança. “Então… ele ainda está vivo? Ele… Edward?”


Kim assentiu, engolindo em seco. “Sim… e um dia, se você estiver pronta, talvez você mesma possa conhecê-lo. Mas precisa entender que ele é… diferente. Muito diferente de qualquer um que você já conheceu. Sua alma é pura, mas seu coração… é como gelo, Clara. Gelo e silêncio, moldados pelo sofrimento e pela solidão.”


A jovem engoliu em seco, a respiração ficando rápida. “Eu quero conhecê-lo. Eu preciso… saber a verdade. Quero ver quem ele realmente é.”


Kim a olhou por longos minutos, avaliando a coragem e determinação da neta. Por fim, sorriu suavemente. “Então você encontrará Edward, minha querida. Mas lembre-se… ele vive protegido, afastado de todos. E você… você precisará ser paciente, e cuidadosa. O mundo lá fora… não entende almas como a dele.”


Clara sentiu uma mistura de medo e excitação subir pelo corpo. Era como se a própria noite tivesse se tornado viva, pulsando com a promessa de um encontro que mudaria tudo. Ela se inclinou para frente, segurando a mão enrugada da avó.


“Eu prometo, vovó. Eu serei cuidadosa. E não vou deixá-lo sozinho. Eu quero vê-lo… e talvez… ajudá-lo a voltar a confiar nas pessoas.”


Kim suspirou, aliviada e emocionada ao mesmo tempo. “Então vá, minha Clara. Mas vá devagar… e nunca se esqueça: Edward não é apenas uma história do passado. Ele é… uma lembrança viva, uma alma que precisa ser tratada com delicadeza.”


A noite avançou, silenciosa, e Clara permaneceu acordada até tarde, pensando em Edward. As palavras da avó ecoavam em sua mente, formando imagens de um homem solitário, um guardião de sua própria vida, escondido do mundo, esperando alguém que fosse capaz de compreender seu coração.


E naquele momento, Clara fez uma promessa silenciosa a si mesma: descobriria Edward, conheceria cada camada de seu mistério, e faria com que ele entendesse que o amor podia existir, mesmo depois de tantas perdas.


O vento soprava pela janela aberta, carregando consigo o cheiro da noite e o frio que parecia atravessar cada parede da velha casa. Clara fechou os olhos, sentindo que algo extraordinário estava prestes a acontecer. Algo que mudaria sua vida para sempre.

Continua no capítulo 02




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