Silêncio no Campus - Capítulo 02
Capítulo 2 – O Auditório Lotado
O auditório central da Universidade Aurora sempre fora palco de discursos inflamados, mas naquela noite o ambiente parecia diferente. Fileiras de cadeiras ocupadas até o último espaço, corredores lotados, cartazes erguidos no ar. Uns diziam “Liberdade já!”, outros traziam frases de protesto contra o convidado. Era como se duas multidões invisíveis, com ideologias opostas, tivessem se encontrado no mesmo lugar para travar uma batalha silenciosa.
Gabriel entrou pelos bastidores acompanhado de um pequeno grupo de organizadores. Enquanto caminhava, segurava firmemente sua Bíblia, escondida sob o braço, como se fosse sua espada invisível. Antes de subir ao palco, inclinou a cabeça por alguns segundos e orou em silêncio:
— Senhor, dá-me sabedoria e coragem. Que a Tua verdade fale mais alto do que qualquer vaia.
Do outro lado da cortina, o barulho era ensurdecedor. Gritos de apoio se misturavam a xingamentos. Professores mais velhos se entreolhavam, tensos, como se pressentissem que a noite poderia escapar do controle a qualquer momento.
Quando seu nome foi anunciado, uma onda de reações tomou o auditório: aplausos calorosos, vaias estrondosas e até cânticos improvisados de protesto. Gabriel respirou fundo, abriu um leve sorriso e caminhou até o púlpito. Os refletores o cegavam por instantes, mas logo seus olhos se acostumaram à luz.
Ele colocou a Bíblia sobre a mesa ao seu lado, em plena vista de todos. O gesto não foi casual: era um símbolo. Muitos notaram e reagiram — uns em silêncio respeitoso, outros com gargalhadas debochadas.
— Boa noite — começou, com voz firme. — Sei que não estou diante de um público fácil. E é justamente por isso que aceitei estar aqui.
Um burburinho atravessou o auditório. Gabriel manteve a calma. Sua postura lembrava a de um soldado que, mesmo ciente do perigo, não abandona o posto.
— Falar sobre liberdade de expressão em um espaço como este é um desafio. Mas não é disso que se trata a democracia? O direito de ouvir, mesmo quando não concordamos?
Um grupo de estudantes levantou cartazes em protesto, virando as costas para o palco. Outros, porém, o aplaudiram com entusiasmo. A divisão se tornava cada vez mais visível, como uma rachadura prestes a se abrir sob os pés de todos.
Enquanto falava, Gabriel não buscava convencer pela força dos argumentos apenas, mas transmitia convicção pelo modo como se apoiava em valores maiores do que si mesmo. Lembrou-se de uma passagem que lera naquela manhã: “No amor não há medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.”
E por alguns instantes, apesar do caos ao redor, sua voz ecoou no auditório com uma clareza surpreendente.
O clima, no entanto, estava longe de se acalmar. Nos cantos do salão, olhares frios se encontravam. Havia quem não estivesse ali para debater, mas para interromper — de qualquer maneira.
Continua no capítulo 03

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