Silêncio no Campus- Capítulo 03
Silêncio no Campus
Capítulo 3 – O Discurso Interrompido
As palavras de Gabriel ecoavam pelo auditório como lâminas invisíveis. Para alguns, eram libertadoras; para outros, ofensivas. A cada frase, o ambiente parecia oscilar entre aplausos e vaias, como ondas que se chocavam em mar revolto.
Ele mantinha a calma, olhando para os que o encaravam com hostilidade. Não era ódio o que refletia em seus olhos, mas firmeza. Sua Bíblia repousava aberta sobre a mesa, como se suas páginas silenciosas sustentassem o peso daquela multidão dividida.
— Quando calamos uma voz — dizia Gabriel, elevando o tom —, não estamos apenas silenciando uma pessoa. Estamos negando a todos o direito de escolher entre ouvir e discordar. A liberdade não existe quando só um lado pode falar.
Um estrondo de vaias irrompeu das primeiras fileiras. Cartazes foram erguidos ainda mais alto. Um estudante gritou:
— Você não é bem-vindo aqui!
Outros seguiram o coro, tentando abafar sua fala. Mas, antes que os organizadores pudessem intervir, um estampido seco cortou o ar.
O auditório congelou. O som não parecia vir de microfone, nem de caixa de som. Foi um ruído real, carregado de ameaça. Muitos se viraram em desespero, outros caíram no chão instintivamente.
Gabriel interrompeu-se por um instante. Seu coração acelerou, mas seus pés não cederam. Ele respirou fundo, olhou para a plateia e, com voz firme, disse:
— É isso que resta quando não há diálogo? O medo? A violência?
O público estava dividido entre o pânico e a incerteza. Alguns gritavam por segurança, outros acusavam manifestantes, e um silêncio denso começou a se espalhar como uma sombra que antecede a tragédia.
Do fundo do auditório, uma figura se levantou lentamente. O rosto parcialmente coberto, os olhos fixos em Gabriel. Ninguém sabia ainda quem era, mas a tensão concentrava-se naquela presença, como se todo o caos tivesse encontrado um epicentro.
Gabriel percebeu. Apertou a Bíblia com a mão direita e, em silêncio, orou dentro de si:
— Senhor, se este for o meu momento, que eu não me envergonhe do Teu nome.
E antes que pudesse continuar sua fala, a confusão explodiu de vez.
Continuação no capítulo 04
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