Silêncio no Campus - Capítulo 04

 


Silêncio no Campus


Capítulo 4 – O Atentado


O tempo pareceu parar no instante em que a figura misteriosa avançou alguns passos pelo corredor central. Os olhares se voltaram para ele, mas ninguém se moveu. Havia algo de sinistro em seu silêncio, como se carregasse a decisão já tomada.

Gabriel, ainda no púlpito, não recuou. Sua mão continuava apoiada sobre a Bíblia aberta, e sua respiração acelerada contrastava com a firmeza da postura. O auditório inteiro parecia dividido entre correr para a saída ou esperar que alguém fizesse algo.

De repente, um brilho metálico surgiu na mão do agressor. Um grito cortou o salão:

— Ele está armado!

O caos se instaurou. Cadeiras tombaram, cartazes voaram, estudantes se empurravam em direção às portas. Mas, em meio ao tumulto, o olhar do homem permaneceu fixo em Gabriel, como se todo o resto fosse apenas ruído.

O primeiro disparo ecoou com violência, fazendo as paredes vibrarem. Gabriel foi atingido no ombro e cambaleou para trás, apoiando-se na mesa. O som estridente das vaias e dos aplausos deu lugar a um coro de gritos apavorados.

Apesar da dor, ele ergueu a mão manchada de sangue e, com voz trêmula mas firme, murmurou diante do microfone:

— Não deixem… que o ódio vença.

O segundo tiro foi fatal. Gabriel caiu de joelhos, e a Bíblia escorregou de suas mãos, repousando aberta no chão. A página marcada pelo impacto do ar parecia destacar, em letras gastas, as palavras: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”

O assassino tentou fugir, mas foi contido por seguranças e alguns estudantes. O auditório, no entanto, já estava tomado por pânico. Pessoas choravam, outras filmavam com celulares trêmulos, e muitos se ajoelhavam ao redor do corpo do rapaz.

O silêncio que se seguiu foi mais pesado do que os tiros. Era um silêncio que não nascia do respeito, mas do choque, da culpa e do medo.

Gabriel estava morto. Mas sua imagem caída, com a Bíblia aberta ao lado, gravou-se na memória de todos como um grito mudo contra a intolerância.

Continua no capítulo 05


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