Silêncio no Campus - Capítulo 05
Silêncio no Campus
Capítulo 5 – O Silêncio e a Revolta
Na manhã seguinte, o campus da Universidade Aurora parecia outro lugar. Onde na noite anterior havia sangue e gritos, agora restavam apenas corredores cheios de cartazes rasgados e um auditório interditado pela polícia. O choque inicial dava lugar a algo ainda mais perturbador: a indiferença.
Entre os estudantes, muitos falavam do ocorrido como se fosse apenas mais um episódio político, uma consequência “inevitável” do discurso de Gabriel. Em vez de luto, havia justificativas. Alguns murmuravam nos corredores:
— Ele provocou. Veio aqui só para causar.
— Foi extremista até o fim.
Poucos ousavam demonstrar pesar. Os que choravam eram olhados com desprezo, como se prantear a morte fosse traição ideológica.
Na imprensa, as manchetes não foram menos cruéis. Jornais estampavam frases como: “Palestra de jovem conservador termina em tragédia”, mas logo vinham os subtítulos carregados de insinuações: “Conhecido por suas posições radicais, estudante dividia opiniões”.
Radical. Extremista. Provocador. As palavras repetiam-se como martelos. O assassinato, em vez de indignação, era tratado como resultado previsível de suas convicções. Poucos veículos ousaram chamar Gabriel pelo que ele era: uma vítima da intolerância.
Enquanto isso, nas redes sociais, a batalha continuava. Uns o transformavam em símbolo da luta pela liberdade de expressão. Outros zombavam, escrevendo que “foi tarde” ou que “recebeu o que procurava”. A violência do crime se diluía em memes e ironias, como se a morte de um rapaz fosse apenas combustível para mais um embate digital.
Na universidade, um pequeno grupo de colegas organizou uma vigília silenciosa. Reuniram-se diante do auditório, velas nas mãos, e rezaram em voz baixa. Mas os gritos dos opositores eram mais altos: “Não ao ódio!”, diziam, sem perceber a contradição.
O reitor da instituição, em pronunciamento oficial, evitou qualquer palavra de condenação direta. Limitou-se a falar em “um incidente lamentável” e reforçou o compromisso da universidade com “a diversidade de ideias e o respeito mútuo”. Suas palavras soaram ocas, perdidas em meio ao eco do tiro que ainda reverberava na memória de quem esteve lá.
Gabriel, que havia sonhado em ser ouvido, foi calado. E, ironicamente, mesmo morto, tentavam calar também o sentido de sua morte.
Mas, em alguns corações — discretos, quase invisíveis — a revolta ardia. Não pelo ódio, mas pela consciência de que um limite fora ultrapassado. A liberdade, pensavam, não havia morrido com Gabriel… mas sangrava junto com ele.
Continua no capítulo 06
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