Silêncio no Campus - Capítulo 06
Silêncio no Campus
Capítulo 6 – A Investigação
O caso de Gabriel mal havia completado uma semana e já parecia enterrado sob camadas de versões contraditórias. A polícia divulgava poucas informações, a universidade mantinha silêncio estratégico, e a imprensa seguia repetindo a mesma narrativa: um jovem “radical” que pagou o preço por provocar demais. Mas para alguns, aquilo não era suficiente.
Entre eles estava Eduardo Vasconcelos, jornalista independente conhecido por investigar temas que os grandes veículos preferiam ignorar. Eduardo não se impressionava com manchetes — queria fatos. E, quanto mais lia sobre o caso, mais percebia as lacunas.
Ele assistiu dezenas de vezes às gravações amadoras feitas no auditório. Estudou cada grito, cada sombra, cada segundo de hesitação antes do primeiro disparo. Havia algo estranho: testemunhas relatavam que o agressor não era sequer aluno da instituição, mas um militante que frequentava manifestações políticas no campus há meses. Ainda assim, poucos jornais mencionavam esse detalhe.
Eduardo visitou o local. Encontrou estudantes que se recusavam a falar, temendo represálias, mas também alguns que, indignados, lhe contaram a verdade:
— Muita gente sabia que ele estava armado — disse uma aluna, a voz trêmula. — Avisaram à direção antes da palestra. Eles ignoraram.
Outro, um rapaz calado que participou da vigília, acrescentou:
— Foi tudo permitido. Fecharam os olhos porque não queriam o Gabriel aqui.
As anotações de Eduardo se acumulavam em seu caderno. Quanto mais investigava, mais claro ficava que a morte de Gabriel não foi apenas fruto de um ato isolado, mas de um clima cultivado, de uma hostilidade alimentada dentro da própria universidade.
Naquela noite, de volta à sua pequena redação, ele escreveu em voz alta, como costumava fazer quando as palavras pesavam:
— Não foi apenas um assassinato. Foi um recado. Um recado para todos que ousarem pensar diferente.
Enquanto digitava, refletia sobre algo ainda mais perturbador: a facilidade com que a sociedade aceitara a narrativa de que a vítima era culpada. Era como se muitos estivessem aliviados por não precisar encarar o verdadeiro monstro — a intolerância que crescia dentro dos espaços que deveriam proteger o livre pensamento.
Eduardo sabia que expor aquilo o colocaria em risco. Mas, assim como Gabriel, não acreditava no silêncio como resposta.
E, no fundo, uma pergunta o perseguia: quantos mais teriam que tombar antes que alguém admitisse que o problema não era a voz de Gabriel, mas o ódio daqueles que nunca quiseram ouvi-lo?
Continua no capítulo final
Comentários
Postar um comentário